sábado, 21 de novembro de 2009

Cavalos dos celtas

Cavalos de Tronco Celta (Equus caballus celticus): Asturcón (Astúrias) , Pottock (País Basco), Pura Raça Galega (Galiza), Exmoor, Dartmoor, Highland, Connemara e Shetland (Reino Unido).

Bretanha

O Pônei Exmoor é uma das raças eqüinas mais antigas do mundo. Uma espécie pré-céltica, talvez tenha habitado as montanhas e charnecas da Bretanha desde a Era do Bronze. Era bem conhecido dos celtas e romanos, e usado para puxar carruagens.



Um cavalo pequeno, de pêlo marrom, ossos largos e pescoço grande, o Pônei Exmoor é forte, ativo e resistente ao clima inóspito das montanhas e a várias doenças eqüinas. Mas teve sua sobrevivência ameaçada de extinção nos últimos séculos. No início do século XIX, a espécie quase se extinguiu devido a cruzamentos realizados para “melhorar” a raça. E durante a Segunda Guerra Mundial, a região de Exmoor se tornou área de treinamento para as tropas inglesas, que praticavam tiro em alvos vivos, inclusive nos pôneis. Muitos pôneis também foram roubados de fazendas e levados para as cidades para alimentação de famintos.

Desde a década de 80, felizmente, esse quadro tem mudado. Muitos criadores têm investido na preservação da espécie, com o apoio de associações como a Exmoor Pony Enthusiasts, a Exmoor Pony Society e a Exmoor Ponies in Conservation.


Península Ibérica

O cavalo domesticado já era usado na Península Ibérica antes mesmo do Neolítico. Em tumbas de guerreiros no sul da Península, achados arqueológicos apontam para a possível existência, na Idade do Bronze, de grupos de guerreiros que combatiam montados. A infantaria do período também fazia uso de alabardas, que são armas próprias para derrubar cavaleiros. Freios, ferraduras e armas de ferro datando das invasões celtas (séc. X e V a.C.) também revelam o uso de cavalos por esses povos.
Homero na Ilíada (Canto XVI), Tucidides e Xenofonte (séc. IV a.C.), Estrabão (séc III a.C.), Políbio (séc. II a.C) e Tito Lívio (I a. C) fizeram menção aos cavalos ibéricos.

Raça de cavalo nativa do Norte de Portugal, o Garrano é utilizado há muitos séculos como animal de carga e trabalho. Já no Paleolítico encontram-se pinturas rupestres com representações de cavalo com configuração e estatura muito semelhante ao Garrano atual. Estes cavalos, cruzados depois com os pequenos cavalos dos celtas, resultaram no cavalo que é conhecido atualmente como “tipo celta”: pêlo de cor castanha, com rabada e crina preta, cabeça de perfil reto ou côncavo, pequeno, não ultrapassando 1,35m (e sendo por isso considerado um pônei).




O Garrano, propriamente dito, é a mais antiga raça por entre as raças irmãs celtas do norte da Península Ibérica, nomeadamente o Cavalo do Monte da Galiza, o Asturcón das Astúrias ou o Potrok Basco.

A palavra garrano se origina da raiz indo-europeia gher, que significa "baixo, pequeno". Daí também se originou guerran, a palavra galesa para “cavalo”. Na Inglaterra, usa-se a palavra pony; na Irlanda, gearron; na Escócia, garron e em Portugal, garrano.

Oriundo das regiões do Minho e Trás-os-Montes, o Garrano habita em estado semi-selvagem nas regiões serranas do Geres e da Cabreira, bem adaptado às zonas frias e úmidas das montanhas. Assim como sua contrapartida inglesa Exmoor, o Garrano também é uma raça protegida, devido ao risco de extinção a que esteve sujeito até pouco tempo atrás. É um animal trabalhador, inteligente e muito dócil com crianças. Também é muito utilizado atualmente em “travado”, um tipo de corrida popular em sua região de origem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Símbolos solares (2) – Cavalos

Cavalos eram reverenciados pelos celtas como símbolo de virilidade, fertilidade, força, riqueza, status. Também eram associados ao sol e seus atributos de beleza, saúde, força, velocidade, riqueza (abundância) e relacionados com as elites guerreiras celtas.














Deuses celestes celtas e romanos eram freqüentemente representados com rodas, discos solares e cavalos ou carros. Deusas eqüinas como Epona também eram muito cultuadas e associadas a cultos solares, santuários de cura, abundância e aristocracia. Cavalos também eram freqüentemente parte de atividades religiosas e ritos funerários, o que revela a importância e a reverência dada pelos celtas ao animal.
















Esse simbolismo já se apresentava na cultura celta desde o período Hallstatt, estendeu-se durante o sincretismo céltico-romano e sobreviveu nas lendas medievais, particularmente no ciclo arturiano - as fascinantes histórias do Rei Artur e seus "Cavaleiros da Távola Redonda".

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Símbolos solares (1) - a roda

Os celtas viam as forças da natureza como expressões divinas. O sol era um dos fenômenos naturais mais venerados na cultura celta, principalmente por seus atributos de cura (freqüentemente associado à água) e de vida (relacionado à germinação das sementes e crescimento das plantas, particularmente os cereais).

A roda era o símbolo solar mais freqüentemente associado ao sol. Imagens de rodas eram atiradas na água de santuários como oferendas votivas (como Bourbonne-les-Bains, Gália atual França), e também usadas por pessoas como talismãs. Rodas também eram esculpidas em rochas (como no Vale Camonica, no norte da Itália), em moedas e em tumbas (como na Alsácia). Tiaras e pingentes com rodas foram usados por oficiantes ou sacerdotes em cerimônias na Bretanha (Inglaterra e Gales) e deuses solares foram representados com rodas, carros, cavalos e cornucópias - todos símbolos solares de fertilidade e abundância.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Belenus, Druidismo e Astronomia

Um asteróide descoberto por A. Maury em 21 de janeiro de 1990 foi chamado de Belenus:

NASA
http://ssd.jpl.nasa.gov/sbdb.cgi?sstr=11284+Belenus


Júlio César, conquistador romano que liderou a ocupação da Gália, disse a respeito dos Druidas:

"Eles também debatem muito com relação às estrelas e seus movimentos, a magnitude do mundo e da terra, a natureza das coisas, a força e o poder dos deuses imortais, e instruem a juventude em seus princípios..." (De Bello Gallico, VI, 13-18).


É parte do ofício druídico estudar
e compreender o universo.

Nós, Druidas de hoje, agradecemos aos cientistas por seu trabalho e sua dedicação. O desenvolvimento das ciências muito nos ajuda a entender nosso mundo e nossa fé. Também nos sentimos honrados com a lembrança de um de nossos Deuses queridos como inspiração para denominar um belo asteróide.

domingo, 4 de outubro de 2009

Belenus e o Beltane

O deus gaulês Belenus pode ter ou não relação com as celebrações de Beltane – essa é uma questão para a qual os historiadores ainda não têm uma resposta precisa. Da mesma forma, não há comprovação de que ele esteja relacionado ao deus fenício Baal, como se especulava no século XIX. Mas há outros elementos que certamente estão associados a Belenus: a luz, as águas e os grãos.

Belenus (Bel, Belenos, Belinu, Bellinus, Belus) é um deus celta cujo nome gaulês possivelmente significa “brilhante”. Seu culto era muito difundido por toda a Gália, e em Aquae Borvonis (Bourbon-les-bains, nordeste da França) estava relacionado às águas curativas.

A associação de Belenus com o deus romano Apolo indica que Belenus era uma divindade da luz e da cura. O atributo de padroeiro dos grãos fica mais evidente em um santuário de Belenus em Inveresk, na Escócia, que contém a inscrição “Apollini Granno”.

Belenus também pode ter originado o nome da fonte de Bérenton (anteriormente Bélenton) em Brocéliande, na região da Bretanha francesa. Essa fonte ficou famosa como o local de encontro de Merlin e Viviane nas lendas arturianas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Flávio Josefo menciona os gauleses

“A face do Império Romano foi alterada após a morte de Nero. Os gauleses, vizinhos dos romanos, revoltaram-se. Os celtas não estavam calmos; muitos desejavam o poder soberano, os exércitos almejavam a revolução esperando que, com isso, fossem favorecidos.”

JOSEPHUS, Flavius. Seleções de Flavius Josephus: Histórias dos Hebreus. São Paulo: Madras, 2005. pp.134

Este comentário foi feito pelo historiador judeu Flavius Josephus (Flávio Josefo), que nasceu em 37/38 d.C. em Jerusalém, e aos 26 anos de idade integrou uma comitiva que foi a Roma, onde conseguiu a libertação de alguns sacerdotes judeus, por intermédio de Popeia Sabina, a esposa do Imperador Nero. Josefo acompanhou toda a agitação política de sua época e região, inclusive o cerco e a queda de Jerusalém em 70 d.C.

Flávio Josefo é fonte histórica primária e uma referência para todos os que desejam entender melhor não somente a história dos hebreus e o início do Cristianismo, mas também o Império Romano e sua relação com os povos dominados.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Druidesa ou druidisa?

Ambas as formas são corretas. Segundo José Pereira da Silva,

"manifestam o feminino por meio dos sufixos derivacionais –esa, -essa, -isa, -triz, -ez: abade – abadessa, alcaide – alcaidessa (ou alcaidina), ator – atriz, barão – baronesa, bispo – episcopisa, conde – condessa, condestável – condestablessa, cônego – canonisa, cônsul – consulesa, diácono – diaconisa, doge – dogesa, dogaresa ou dogaressa, druida – druidesa, druidisa (ocorre em O. Bilac), duque – duquesa, embaixador – embaixatriz (embaixadora), etíope – etiopisa, imperador – imperatriz, jogral – jogralesa, papa – papisa, píton – pitonisa, poeta – poetisa, príncipe – princesa, profeta – profetisa, sacerdote – sacerdotisa, visconde – viscondessa."

Em: A INEXISTÊNCIA DA FLEXÃO DE GÊNERO NOS SUBSTANTIVOS DA LÍNGUA PORTUGUESA.
http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit01/sliit01_09-28.html

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Druida ou druí -da?

Qual a pronúncia correta?

Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, de Francisco da Silveira Bueno, publicado pelo MEC:

"DRUIDA, s.m. Antigo sacerdote entre os gauleses e bretões. (O Peq. Voc. da A.B.L. manda colocar o acento agudo em u, mas não há necessidade: o caso é o mesmo de gratuito, muito, etc.; não há perigo de confusão prosódica com druída, que, se existisse, levaria acento no i, obrigatoriamente.)" p.384

domingo, 5 de julho de 2009

IMBOLC, AS MUITAS FACES DE BRIGID

Após o Solstício de Inverno, as noites começam a ficar menos longas e a luz do sol se faz um pouco mais presente durante os dias frios dessa época do ano. O Solstício é a noite mais longa, o meio do inverno; nele há uma promessa de que a luz um dia voltará. O Imbolc é o fim da estação fria; mais do que uma promessa, é a certeza visível de que o sol, ainda que tímido, está começando a retornar. O Imbolc é, portanto, uma antecipação da primavera; mas ainda é um tempo de precaução e cuidado, pois o inverno não terminou.

A lunação do Imbolc é chamada Lua do Gelo. Na Europa antiga, o fim do inverno representava uma fase particularmente difícil; as temperaturas continuavam baixíssimas; o alimento, não muito fresco, ainda tinha que ser racionado (ou poderia não durar até a primavera); e após quase três meses de longas noites, pouca luz solar, muita neve e confinamento em casa, as pessoas começavam a sentir os sinais de tédio, apatia, irritabilidade ou depressão. Muitos enfermos ou idosos não resistiam à dureza da Lua do Gelo, à vassoura da Deusa que vem varrendo o velho para que o novo possa cobrir a terra na primavera. Em toda a parte, eram celebradas deusas ceifeiras, anciãs ou relacionadas ao submundo: nos países eslavos, havia o dia de Baba Yaga; na Grécia, o retorno de Perséfone do submundo; e em terras célticas, a celebração de Brigid, patrona dos ferreiros e sua arte da forja: o bom ferro, a boa espada tem que passar pelo fogo. Essa é a face anciã (ceifeira!) de Brigid que muitos pagãos de hoje parecem não ver, ou não querer ver. Cuidado, crianças, com a Lua do Gelo...

Era nesse momento difícil (o fim do inverno) que a família ou clã se reunia próximo ao fogo, à lareira - o aconchego da chama de Brigid, deusa mãe e protetora do lar. Era nesse momento que o músico ou contador de histórias era tão necessário: para reanimar as pessoas com canções, poemas e charadas, e manter viva a memória da tribo com histórias e sagas de heróis e ancestrais. Ali estava Brigid, Senhora dos Bardos, na forma de inspiração, criatividade, encantamento, graça.



O Imbolc também era um bom momento para se verificar como estavam as sementes que haviam sido separadas no Samhain e estocadas para o plantio na primavera. Mexer nas sementes (ainda que para segurá-las um pouco na mão), sonhar e fazer planos para o verão e as colheitas era algo que sempre trazia um alento, uma esperança naqueles dias lúgubres. Brigid, deusa das sementes e dos grãos, só poderia mesmo ser filha do Dagda, o maravilhoso deus do Caldeirão do Renascimento, da fartura e da prosperidade, o Deus-Druida, o Todo-Pai. Brigid, deusa-menina, enche a casa de vida, sonhos, alegria.



É tempo de Imbolc no Hemisfério Sul. O Brasil enfrenta mais um de seus invernos recessivos, com muito desemprego, contenção de despesas e tensão social. Assim como os antigos celtas, ainda teremos noites frias e longas pela frente, e veremos estruturas velhas e debilitadas ruírem. Ainda há muita meditação e sacrifício para fazer. Precisamos ser fortes como a espada na forja. Mas a luz do sol já está retornando; em breve a primavera chegará, trazendo-nos bênçãos de renovação, saúde, trabalho e prosperidade.

Texto de Bandruir

Leia mais sobre Brigid em:
Blog O CANTO DOS BARDOS
Uma página dedicada a Brigid
www.bandruir.multiply.com

quarta-feira, 1 de julho de 2009

AVALON, A ILHA DAS MAÇÃS

Nas lendas arturianas, Avalon era uma ilha encantada, guardada por nove feiticeiras, entre elas Morgana Le Fay, a meia-irmã do Rei Artur. Tal como Y-Brasil e outras ilhas lendárias da mitologia celta, Avalon aparecia e desaparecia magicamente em meio às brumas. Foi para lá que Morgana levou Artur quando ele foi mortalmente ferido em sua última batalha.



Embora todas essa lendas tenham sido escritas na Idade Média, com muita influência de outras culturas, são os traços da mitologia celta que predominam nas aventuras de Artur. Ele próprio, às vezes, se parece muito mais com um deus ou um herói celta (como Lugh, Bran ou Fianna) do que um rei mortal. Quanto à Morgana, seu perfil é indiscutível: além de feiticeira e fada (“Le Fay”), seu nome pode ter se originado de uma corruptela do nome da Mórrigan, a deusa celta da guerra, senhora da magia e da transmutação. E quanto a Avalon?

Aval significa maçã, assim como apfel (em alemão) e apple (em inglês), que têm a mesma origem. Avalon é a Ilha das Maçãs. Na Cornualha – terra natal do Rei Artur, segundo algumas versões – o Samhain é chamado de Allantide, ou “festival das maçãs”. Esse grande evento do calendário druídico era celebrado em diversas partes da Europa céltica, e acreditava-se que nessa noite os seres humanos estavam mais sujeitos a sofrer influência de seres feéricos (fadas). O Samhain (Samonios, na Gália, e Hollantide, no País de Gales) era o Ano Novo celta, o início do inverno. A palavra druí (= druida, em gaélico) significa feiticeiro, mago, sábio, vidente.

Segundo o folclore de países como Gales e Irlanda, fadas não envelhecem ou morrem. Seu mundo é caracterizado pela beleza, fartura, juventude, vigor. Os seres feéricos freqüentemente utilizam maçãs para encantar e seduzir os mortais, e a maçã tem o poder mágico de preservar a juventude e o vigor, como no conto celta de Connla e a Donzela Encantada, e na lenda viking da deusa Idun. Hoje os nutricionistas ensinam sobre o valor nutritivo da maçã para a pele, o sangue e os dentes. Mas a sabedoria popular sempre soube disso. Diz o provérbio inglês: An apple a day keeps the doctor away (“Uma maçã por dia mantém o médico longe.”)

Talvez seja exatamente disso que o mundo precise hoje. Renovação, rejuvenescimento, vigor. Como Artur buscando a cura na ilha encantada, ansiamos por um tempo em que a magia retornará, trazendo-nos vida, sedução e encantamento.




Texto de Bandruir (fundadora e diretora da GERGÓVIA Escola de Druidismo e Cultura Celta).

segunda-feira, 29 de junho de 2009

DRUIDISMO HOJE

Sempre que alguém me pergunta qual a minha religião e eu respondo: “Druidismo”, das duas, uma: ou a pessoa me pergunta “O que é isso?”, ou sorri bondosamente, achando minha opção religiosa um tanto quanto exótica.




No primeiro caso, a maioria das pessoas acredita não saber o que é Druidismo; mas ao escutarem a palavra mago, imediatamente pensam em Merlim (das lendas do rei Artur) ou até mesmo no Druida Panomarix (dos quadrinhos e filmes de Asterix, o Gaulês). E embora nenhum desses dois personagens tenha existido, a imagem e o mito deles devem muito às reminiscências de uma religião que de fato existiu um dia: o Druidismo. Mas quem eram os Druidas?


Os Druidas eram os sacerdotes das tribos celtas. Os povos celtas habitaram a Europa central e as ilhas britânicas a partir do século X a C. Tinham atividades econômicas e de subsistência variadas: agricultura, pecuária, comércio, pesca e até caça e coleta de alimentos. Como muitos outros povos antigos, sabiam a fartura e a generosidade da natureza, mas também a escassez e a dificuldade, principalmente nos meses de inverno. Tinham plena consciência de sua dependência dos recursos naturais, do clima e das estações do ano.

Por isso, desenvolveram ao longo dos séculos um sistema de crenças onde os deuses eram a própria natureza: a terra, a água, a fertilidade eram a personificação de Dana, a grande Deusa-mãe, cujo nome é o próprio rio Danúbio; Lyr é o mar, o grande Pai de onde veio a Vida; Lugh, o Brilhante, é o sol, o raio, a luz; Boan, Sequana, Matres e muitas outras deusas eram as águas curativas dos rios que receberam seus nomes. Havia inúmeros deuses-sol, fogo, água, floresta, animais - para os celtas, todo o ambiente natural era sagrado, inclusive o solo onde a tribo vivia: cada árvore, cada rio ou lago tinha uma alma, era vivo e habitado por deuses e espíritos de antepassados e elementais. Como tudo na natureza se encontra dentro de um ciclo contínuo de vida, morte e renascimento, os celtas acreditavam que, após a morte, a alma tornava a viver em outros corpos - algo parecido com o que hoje chamamos de "reencarnação".



Os Druidas eram os sacerdotes dessa religião da natureza. Não construíam templos; preferiam realizar seus rituais em clareiras na floresta, em pântanos e à beira de rios e lagos. Eram embaixadores, filósofos, teólogos, poetas, médicos, videntes, profetas e xamãs. Exerciam suprema autoridade sobre assuntos religiosos, judiciais e legislativos, educavam os jovens e mantinham na memória da tribo a história e a cultura legada por seus ancestrais. Estudavam, entre outras coisas, astronomia e ciências naturais, e seu aprendizado levava cerca de 19 anos. Mediavam conflitos entre tribos, celebravam tratados de paz e embora não fossem obrigados a ir à guerra, em várias ocasiões se envolveram em rebeliões e levantes contra a expansão e a ocupação romana das terras célticas; lutaram contra a escravização dos celtas e a imposição de uma cultura estrangeira. Mesmo perseguidos, os Druidas resistiram, participando ativamente das rebeliões de Vercingentorix e Boudicca, até o massacre final em Mona (atual Anglesey). Tudo pela preservação de sua instituição, sua cultura seu ambiente e seu povo.


Por que, para muitas pessoas, o Druidismo nos dias de hoje parece tão exótico e distante? Mais do que nunca é preciso socorrer e preservar os ecossistemas - o mar, a floresta, os mangues, o deserto, as terras geladas - que se encontram debilitados, vulneráveis e profanados pela ação destrutiva da ambição humana. Mais do que nunca, é preciso trabalhar pela correta distribuição da colheita, pela justiça social, pois com a cruel e crescente desigualdade econômica atual, o mundo jamais encontrará a paz. Mais do que nunca, é preciso encontrar espiritualmente a irmandade com cada habitante deste planeta - seja pessoa, animal, planta ou pedra - por mais diferente que seja. Mais do que nunca, é preciso estudar a História, e saber que, se um dia essas foram atribuições de um Druida, não podem ser menos agora - justamente agora, quando o mundo (nossa tribo!) mais necessita de nós.


E se hoje a aldeia é global, então nós também somos Druidas globais: e responsáveis por todo ser vivente que existe e tornará a existir sobre a Terra. Esse é o legado do Druidismo para os Druidas de hoje.

Texto de Bandruir (fundadora e diretora da GERGÓVIA Escola de Druidismo e Cultura Celta).

terça-feira, 12 de maio de 2009

OS DRUIDAS



DRUIDAS: MONSTROS OU SANTOS?

Quem eram realmente os druidas? Fanáticos religiosos cruéis, de um povo "bárbaro" e "atrasado", que sacrificavam seres humanos aos seus deuses? Ou sábios bondosos e iluminados, portadores das mais altas virtudes?

Muito provavelmente, nem uma coisa nem outra. Os druidas - como qualquer outro fato histórico - devem ser entendidos dentro de seu contexto: ou seja, é preciso entender o tempo, o local e os costumes nos quais eles viveram, e também quem escreveu sobre eles.

OS CELTAS - "O grande poder dos celtas era, e ainda é, o mito." Assim o historiador, poeta e folclorista Jean Markale define o que sabemos sobre os celtas. Os celtas não eram um povo, mas muitos povos que habitaram a Europa central e as Ilhas Britânicas a partir do século X a.C. Eram fisicamente diferentes uns dos outros, viveram momentos históricos diferentes (os gauleses, por exemplo, foram massacrados por Júlio César no século I a.C.; na Irlanda, os gaélicos chegaram a conhecer o cristianismo na Idade Média) e tinham atividades econômicas e de subsistência variados, conforme a região: agricultura, pecuária, pesca, e até caça e coleta de alimentos. Muitas tribos tinham conflitos históricos e rivalidades, muitas vezes exploradas por povos invasores. Mas, apesar de diferentes entre si, os celtas possuíam muita coisa em comum: parentesco lingüístico, estruturas políticas e religiosas, mitologia, arte, enfim tudo o que se costuma chamar "a cultura celta".

OS DRUIDAS - James MacKillop, autoridade mundial em assuntos irlandeses, define os druidas como "uma ordem de sacerdotes-filósofos da sociedade céltica pré-cristã". De acordo com as fontes clássicas (gregos e romanos), os druidas eram filósofos, teólogos, médicos, videntes, profetas, magos e poetas.Exerciam suprema autoridade sobre assuntos religiosos, judiciais e legislativos, e educavam jovens e aspirantes à sua ordem. Estudavam, entre outras coisas, astronomia e ciências naturais, e o aprendizado levava cerca de 19 anos. Não pagavam impostos, e embora não fossem obrigados a ir a guerra em várias ocasiões se envolveram em rebeliões e levantes contra os romanos, que viam os druidas como um empecilho para a conquista romana das terras célticas. Daí a necessidade, por parte de escritores como Júlio César, de denegrir a imagem dos celtas como “bárbaros” e “cruéis”.


UMA RELIGIÃO DA NATUREZA – Para os celtas, os deuses não estavam na natureza – eles eram a própria natureza.
Assim, Lyr não era o deus do mar, mas o próprio mar, em toda a sua essência, generosidade e força.
Dana era a própria terra, as fontes de água, a Mãe.
Inúmeros outros deuses-sol, lua, fogo, etc. eram cultuados.O próprio solo onde a tribo vivia era sagrado – deuses, antepassados e espíritos elementais
habitavam árvores, pedras, águas. Por isso mesmo, os druidas não construíam templos: preferiam realizar seus ritos em clareiras nas florestas, em pântanos e à beira de rios e lagos. As terras pertenciam ao clã (à tribo) e não ao rei (chefe tribal). Este apenas administrava o território, além de comandar os guerreiros. Como tudo na natureza possui um ciclo de vida, morte e renascimento, os celtas acreditavam que a alma renascia em outros corpos – algo parecido com o que hoje chamamos de reencarnação.

OS DRUIDAS, AGITADORES SOCIAIS? – É o que pensa Miranda Green, chefe de um centro de estudos arqueológicos de Wales College (universidade no País de Gales). De 58 a 50 a.C., Júlio César invadiu a Gália. Com o imperialismo romano, vieram a imposição de uma cultura estrangeira, o genocídio dos gauleses, a profanação de bosques e poços sagrados, o confisco das terras célticas, a escravização dos celtas, a subjugação total da mulher. Mesmo perseguidos, os druidas resistiram: das rebeliões de Vercingentorix e Boudicca até o massacre final em Mona (Anglesey), os druidas participaram ativamente da luta pela preservação de sua instituição, de sua cultura e de seu povo. Para nós hoje, este talvez tenha sido um de seus maiores legados: a lição de que é preciso preservar o conhecimento de nossos antepassados e proteger o meio ambiente.